Post aleatório. Só uma história que eu prometi contar e me deu vontade de escrever.



Ah, é sempre bom conversar na estrada para passar o tempo. Igualmente agradável é ver um jovem filhote tão curioso e interessado nas questões da vida. Receio que não saiba muito sobre aqueles que têm como dever guardar esta terra de onde tiramos nosso sustento. O quê? Ainda não conhece as histórias? Tome, refresque a garganta e aguce os sentidos pois vou tentar lhe contar...


Quando as estradas ainda não existiam e nem mesmo a morte caminhava no mundo existia apenas Gaia. Ela é tudo, sua mãe, seu pai, seus irmãos. Seu espírito deu origem à todas as formas de vida e às entidades espirituais. E digo com certeza: tudo tem um espírito, do besouro à cascata.


Abaixo de Gaia existiam 3 entidades cósmicas conhecidas como a tríade. Cada qual poderosíssima e viviam em equilíbrio constante tornando toda a criação na face de Gaia consistente. A Wyld representava a criação caótica e disforme, uma metamorfa. A Weaver a ordem, a teia que padroniza tudo. Nela está contida a exatidão e a matemática. Por fim a Wyrm era o equilíbrio, destruindo os excessos de uma ou de outra.


Certa vez no tempo a Wyrm enlouqueceu. Contam alguns que foi envolvida pela teia da Weaver e no seu pulso frenético por equilíbrio se tornou destruição. Outros que se corrompeu e se tornou a aniquiladora. O fato é que hoje suas manifestações tentam destruir, corromper e obliterar tudo o que é natural e harmônico. A serpente é louca, imunda e pervertida.


Luna, irmã de Gaia e nela criada, reagiu criando seus protetores. Homens caminhavam como animais e animais andavam como homens. Esses metamorfos tinham cada qual sua função na missão final de proteger Gaia e derrotar a Wyrm revertendo seu estado de Corruptora. É importante que saiba que dentre todos metamorfos.


Um dia os homens-lobo se encheram de soberba e empreenderam uma guerra contra as outras raças, acusando-as de não revelar seus segredos em Gaia e que por isso teriam sido afetados pelos delírios da Wyrm. Em cada terra pulsante com o sangue da mãe se misturou o sangue dos filhos e a força das matilhas sobrepujou todas as outras espécies que para não se verem extintas tornaram-se reclusas salvando seus poucos membros. Agora os Lobisomens, Garou como nos chamamos assumiram a missão sozinhos de deter a Grande Serpente.


Sim, filhote, eu sei. Não estávamos certos. Nosso orgulho manchou nossas almas com a Fúria e deixamo-nos dominar pela Wyrm dentro de nós. Tornamo-nos assassinos e em nome da Mãe criamos a guerra com nossos pares de outras formas.


Com o tempo o Povo foi se dividindo de forma peculiar. Alguns de pêlos bracos e atitudes nobres eram nossos maiores heróis. Eles nos lideraram e nós os chamamos de Presas de Prata. Houve aqueles políticos e sedentos de poder ao qual nos referimos como Senhores das Sombras. Os guerreiros furiosos do Norte ficaram conhecidos como Crias de Fenris. Os que abandonaram as florestas para viver entre os homens são os Andarilhos do Asfalto. Sim, existem aquelas que só andam entre mulheres guerreiras, as Fúrias Negras. Os que vivem entre as florestas sem jamais caminhar em duas pernas são os Garras Vermelhas. Alguns Puros atravessaram o oceano e são eles os Uktena, Wendigo e os extintos Croatoan. Os contemplativos formaram os Portadores da Luz. Os comedidos e pacíficos os Filhos de Gaia. Os apaixonados, valentes e bardos os Fianna.


Mas haviam aqueles que andavam sozinhos. Quietos, buscavam o conhecimento em todas culturas do mundo, caminhando de cidade em cidade da civilização atrás de respostas. Só as viagens lhes faziam felizes e seus corações minguavam quando presos por muito tempo em algum lugar. Você é um deles, um Peregrino Silencioso.




Sim, nós temos uma origem, nas terras de Khem, o Egito. É de lá que viemos, mas de lá fomos expulsos pelo maltdito Set, o usurpador. O pai de uma raça de vampiros que dominou nossas terras nos amaldiçoou após nossa aliança pôr fim ao seu reinado. Juramos desde então rasgar a garganta de cada sanguessuga que pudermos em nossas vidas. Que o uivo dos Peregrinos levem o terror às suas mentes. Que os malditos mortos-vivos saibam que sua morte final os espera!


Após a maldição nosso maior líder Shu-Heru (que enfrentou o próprio Set) nos guiou rumo a nossas novas vidas. Após isso sua luta prosseguiu, mas nenhum de nós, nem o ancião mais antigo sabe qual o fim dessa lenda. Graças à maldição de Set não podemos falar com nossos antepassados e não nos comunicamos com o grande Shu-Heru. Daí vem nossa paixão pela poeira dos caminhos que nos levam a sabedoria. Mas não à sabedoria introspectiva dos Portadores, mas ao entendimento do mundo, das almas que habitam nosso mundo s os outros. Os espíritos falam conosco como com nenhum outro e as trilhas são nossas irmãs. Um Peregrino Silencioso se inquieta quando preso, se enfurece quando estagnado. É nossa vida conhecer e alertar a todos sobre o que vimos. Somos os mensageiros, os arautos da Coruja, os que sabem antes e alertam as outras tribos.


Pois existe uma profecia muito antiga, garoto. No início dos tempos uma Garou foi erguida pela Fênix e viu do alto como seria o fim. Que nos tempos finais as cidades se estenderiam por todo o mundo e Gaia choraria através dos rios e nascentes poluídos até morrer. Nós, seus heróis reduzidos a apenas alguns poucos não seríamos fortes ou numerosos o suficiente para deter as incontáveis ondas de ataques da Wyrm. A Corruptora encontrou um aliado de natureza perversa e abraçou seus corações com dedos pestilentos. Eles são os homens. Sua natureza gananciosa ajudou a Serpente no seu intuito de consumir a Terra sagrada. E quem viu os sinais no início das eras não era outra senão uma de nós, o povo errante entre os Garou. E desceu para nos alertar, mas hoje tristemente sabemos que vivemos esses dias. O Apocalipse, esse dia tão fatídico, chegou. E nesses tempos viveremos nossa última batalha.


É bom que esteja descansado. Ainda temos muitos quilômetros até a próxima cidade. Soube que eles estão em festa, então deve ser um bom lugar para comer e repousar por um dia ou dois. Ouviremos suas histórias, beberemos com eles e respeitaremos seus costumes. Depois seguiremos por mais algum caminho, aprendendo e combatendo até que toda a corrupção esteja morto ou até que o último de nós não consiga mais correr ou respirar o perfume da terra que nos sustenta. Esse é o nosso lar, tudo entre o solo e as nuvens! Essa é a nossa missão. Quando sentir-se desesperado, corra o mais rápido que puder e no caminho sinta a brisa acariciando-lhe o rosto, sinta a areia sob seus pés. Lembre do gosto de ser sempre um estrangeiro. Delicie-se com as suas experiências e as memórias de uma vida farta de memórias e lutas. É por isso que somos os Peregrinos Silencioso.

Nenhum comentário: